quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


A CULTURA PERDIDA

Um dos grandes filósofos, Voltaire, nunca fez notas de rodapé, eu o faço porque não tenho a grandeza de Voltaire e esqueço alguma coisa na hora em que mais preciso. Porém sou ousado como Friedrich Nietzsche, este mesmo que ousou matar o deus inventado dos homens e acabar com o dualismo imbecil que faz os homens pensar em rebanho, mas na verdade vive a solidão de sua mesquinhez, na sua ignorância classifica o outro, aponta como fosse ele o certo.

Albert Einstein quando escreveu a teoria da relatividade, seria reprovado em alguns colégios e universidades, apenas porque as medidas do seu texto não eram iguais as da norma reinante, como se métrica e mancha de texto fossem essenciais para a compreensão de um conteúdo.

Eu como conteúdo crítico e inviso pela “nossa elite cultural provinciana”, incomodo mais uma vez ao dizer que nossos centros de educação esquecem rapidamente a etimologia do seu próprio nome, não buscando a cultura com quem a conhece, talvez por medo de que a ajuda pode ofuscar a parca luz (se é que ela existe), que este dinossauro do ensino pensa em possuir.

O motivo principal da formação de uma confraria exclusiva se alternando no poder é justamente a falta de uma abrangência literária e cultural, por preguiça ou acomodamento, achando desta forma um incômodo ou mesmo falta de visão, revolucionar a sociedade onde vive para o conhecimento. Através de convites e colaboradores, ou mesmo dar mais liberdade para novos professores que vivem apagados, porque não podem se manifestar e abrir-se todo para o seu potencial castrados pelo sistema que os persegue devido a uma falta de visão de vanguarda.

Estes educadores acossados, vão acabar igual ao velho dinossauro, obedientes ao sistema, acostumado ao salário miserável, posição do social do “tudo bem”, privando desta forma o aluno para um conhecimento mais abrangente, e maior conquista para o advento de mercado.

Venham para o futuro, diz o lema da escola, quando deveria ser, venham debater com a gente se existe e o que é o futuro. Faça a escolha certa diz outro lema, enquanto deveria ser, venha debater o conceito de certo e errado. Dentro da grande razão do professor dinossauro isto não existe, porque ele pensa que faz o trabalho da verdade, esquece-se da fabricação de dúvidas e de levar o aluno ao autoquestionamento.

Não se aprende mais filosofia (aqui na província, filosofia é uma piada, trocada por ridículas aulas de criacionismo), não se quer saber de literatura, todos se lixam para a sociologia. Isto vai acabar em prédios horrorosos no nosso cotidiano, pois o engenheiro não tem nenhuma formação social, o advogado vai ser um rábula ou mau juiz, pois nunca leu Kafka. Precisamos de engenheiros que saibam escrever, sociólogos que tenham lido Dostoievski, de professores que tenham se deliciado com Rimbaud, viajado com Fernando Pessoa, precisamos mesmo é de profissionais e educadores que tenham lido Marx, que saibam quem foi Hobsbawn, conheçam Zygmunt Bauman, Ezra Pound, obras de Machado de Assis, textos de Clarice Lispector, Saramago, poesias de Ferreira Gullar. Não daquela maneira decorativa encima de um escritor, a aula toda de Jose de Alencar, numa sabedoria maçante e decorada que causa sono nos alunos. 

Esta preguiça e falta de perspectiva do professor jurássico, vai fazer muitos desistir do estudo e do verdadeiro conhecimento e os que sobrarem, numa minoria, vai ser apenas técnico de mercado ou mais um professor mal preparado.

Já estamos tendo uma sociedade de tecnicistas, esta coisa que ninguém sabe exatamente o que é despreparado para uma vida social e cultural, vivendo nas confrarias políticas de atraso para segurar o seu vil metal e sua “posição” na sociedade decadente, individual e perniciosa. Este acadêmico inculto não sabe compreender uma arte, não adianta ir a um teatro, pois não vai entender a peça, até desconhece o autor.

Não conseguem ler um verso de Drumonnd, não entendem o “Humano demasiadamente humano de Nietzsche”, “O Homem Revoltado” de Camus, a visão política de Bertolt Brecht, não tem preparação intelectual para a crítica e a autocrítica com propriedade para compreender e separar discursos, para saber votar, para formar opinião, para se rebelar contra a insanidade prosaica da política, para aceitar seu semelhante diferente, sem rotular, enfim, para questionar até quem é, de onde veio e para onde vai, como fez num quadro o pintor Paul Gauguin.

Sugiro (se é que vai adiantar a sugestão), buscar na sociedade por pessoas de conhecimento, desde o nativo interiorano com suas essências naturais e histórias do folclore, até o mais louco poeta (ou quem pensa que é), o intelectual ou qualquer pessoa que representa alguma forma de arte. Abram as oficinas, pois tenho a certeza que vai ajudar a formar gente com mais compreensão de sua realidade, independente se ele continue agricultor ou fique com qualquer outra atividade. Seja um operário ou com uma formação acadêmica, o fato é que vai haver uma mudança, um novo autoquestionamento. Mas isso a sociedade não vai cobrar nunca, só quem pode mudar é o seu próprio discurso, é seu pronunciante com a visão cultural, amparada por verdadeiros mestres, aquele que muda, inova e aceita o conhecimento, sem o desdém da oligarquia burra na sua redoma antiga, conservadora, hipócrita e acomodada.

Os jovens vão parar de fazer cenas de filmes trash americanos, pois vão conhecer os dramaturgos e quem sabe até peças de Shakespeare, Artaud, Ionesco, Plinio Marcos, Jose Celso Martinez, Augusto Boal, Nelson Rodrigues, etc... Quem sabe exista mais liberdade da poesia atingir toda a sua dimensão e todas as suas linhas com mais recursos literários, com certeza sairemos daqueles concursos enfadonhos de versinhos e de amor exacerbado com cheiro de orgasmo no ar. Nesta sociedade temos jovens de grandes qualidades, mas que necessitam de mentores com qualidade.
 Jaime Baghá  - Na linda província, achando um desperdício de talentos castrados pela ignorância.

“É difícil evitar que nossas visões mais elevadas pareçam loucuras e por vezes até crimes, quando chegam a ouvidos que não são capazes de compreendê-las”.
 Friedrich Nietzsche

"Nós vos pedimos com insistência
não digam nunca:
isso é natural!
diante dos acontecimentos de cada dia
numa época em que reina a confusão
em que corre o sangue
em que o arbítrio tem força de lei
em que a humanidade se desumaniza
não digam nunca:
isso é natural!
para que nada possa ser imutável!"
Bertolt Brecht


Luta de Classes - Antônio Berni, pintor argentino

"Em lugar de comunicar-se, o educador faz "comunicados" e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção "bancária" da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. Educador e educando se arquivam na medida em que, nesta destorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros".
Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido.


Os países pobres são subdesenvolvidos não por razões naturais - pela força das coisas - mas por razões históricas - pela força das circunstâncias.Circunstâncias históricas desfavoráveis
principalmente o colonialismo político e econômico que manteve estas regiões à margem do processo da economia mundial em rápida evolução.

Na verdade, o subdesenvolvimento não é a ausência de desenvolvimento, mas o produto de um tipo universal de desenvolvimento mal conduzido. É a concentração abusiva de riqueza - sobretudo neste período histórico dominado pelo neocolonialismo capitalista que foi o fator determinante do subdesenvolvimento de uma grande parte do mundo: as regiões dominadas sob a forma de colônias políticas diretas ou de colônias econômicas.

Esta tremenda desigualdade social entre os povos divide economicamente o mundo em dois mundos diferentes: o mundo dos ricos e o mundo dos pobres, o mundo dos países bem desenvolvidos e industrializados e o mundo dos países proletários e subdesenvolvidos. Este fosso econômico divide hoje a humanidade em dois grupos que se entendem com dificuldade: o grupo dos que não comem constituído por dois terços da humanidade, e que habitam as áreas subdesenvolvidas do mundo, e o grupo dos que não dormem, que é o terço restante dos países ricos, e que não dormem com receio da revolta dos que não comem.

Ora, o problema do subdesenvolvimento não é exclusivo destes países; é antes um problema universal, que só pode ter soluções igualmente em escala universal. Viver na opulência, num mundo em que 2/3 estão mergulhados na miséria, não é apenas perigoso, é um crime. A tensão social na qual se vive hoje é, na maior parte das vezes, o produto desta conhecida injustiça social, já que os povos dominados tomaram consciência da realidade sócio-econômica do mundo.

Cada vez se pergunta com mais insistência se desenvolver-se significa desumanizar-se, nesta frenética busca de riqueza, de acordo com a fórmula preconizada pelo ocidente de maximizar os lucros em vez de maximizar as energias mentais que enriquecem com mais rapidez a vida dos homens e podem dar-lhes muito mais felicidade.
Josué de Castro