domingo, 24 de agosto de 2014

MUROS 
Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?
E eis­‑me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.
Lá fora há tanto que fazer - tudo ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?
Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído
E sem saber fiquei fechado, sem vista e sem portal.
Konstantínos Kaváfis , poeta grego.
Ao vergonhoso Muro da Cisjordânia de segregação racial, construído pelo Estado de Israel.

Massacre em Gaza

Nada justifica o massacre de Israel contra os civis na Faixa de Gaza, punir o Hamas um grupo sem organização, sem estrutura com bombinhas de “traque” perto do poderio da superpotência militar de Israel é um fato, assassinar civis indiscriminadamente como velhos, mulheres crianças, destruir escolas, hospitais, mesquitas, transformar a cidade em escombros, “mandar Gaza de volta para a idade média”, como falou o vice-premier de Israel Eli Yishal é outro.

É Interessante Israel ter que castigar o povo por causa do Hamas? Foi o próprio serviço secreto de Israel, nos anos 80, que participou ativamente da sua criação. É, o Hamas foi criado graças aos serviços de inteligência de Israel para enfraquecer a OLP de Yasser Arafat. Ao chamar o Hamas de terrorista, a história nos mostra que foram os sionistas que começaram o terrorismo no conflito árabe-israelense, quem explodiu o Hotel King e suas 96 vítimas, quem colocava bombas em cafés, em ônibus, em mercados, em embaixadas estrangeiras em Roma contra os britânicos, quem fazia minagem em ambulâncias e cartas bombas tudo isso muito ativo da década de 30 a 50, e hoje muito mais aperfeiçoados e dos mais especializados do mundo.

O que Israel precisa é respeitar e cumprir a resolução 181 da ONU, que desocupe os territórios roubados dos Palestinos e liberte este povo do cativeiro, devolva aos palestinos as suas terras e casas aos quais foram expulsos como animais, e continuam sendo expulsos dia após dia, com Israel ampliando os números de “assentamentos” ilegais, pegue um mapa e compare de 1948 aos dias atuais, com a população árabe cada vez mais vivendo em guetos.

Os “Acordos de Paz de Oslo” estão mortos e enterrados debaixo dos assentamos e os pedaços que sobraram mantém os palestinos enjaulados numa humilhação totalmente contrarias as Convenções de Genebra que o governo de Israel viola desde 1967. O Tribunal Penal Internacional deve processar os líderes israelenses por crime de guerra e pelo sistema de “apartheid” que foi criado. O primeiro ministro Benjamin Netanyahu  não está nem um pouco interessado nas negociações de paz, ele usa a invasão das terras,  as construções nos assentamentos roubados e expropriados em grande escala para garantir a sobrevivência de seu  governo. É um ritmo criminoso e violento apoiado pelos Estados Unidos e partidos fascistas como o Bait Yehudi “Lar Judaico” de Naftalli Benett, totalmente contrário a um estado palestino e que jamais vão reconhecer este estado independente e as resoluções da ONU.

Tudo isso foi criado graças a uma limpeza étnica das populações árabes e o terrorismo do IRGUN. Este negócio de preceitos religiosos, (dizem que os criadores do estado de Israel eram ateus) de “povo escolhido”, terra prometida, indústria do Holocausto, tem até história de vingança contra palestinos por “crimes” cometidos por filisteus há dois mil anos, tem quem defenda isso para a usurpação. Gente igual ao falecido rabino Ovadia Yosef (tem muitos ainda em Israel e no mundo), louco e completamente demente e líder “espiritual”, (pior do que os radicais muçulmanos) de um partido com ministros no governo.  A maior parte da população aprova este crime e seus filhos cantam pelas ruas "There’s no school tomorrow, there’s no children left in Gaza! Oleh!" (não há nenhuma escola amanhã, não há crianças em Gaza), lembrando muito a juventude hitlerista na época do nazismo, uma vergonha criminosa. Se necessitar de mais jovens o “Hasbara” com sua “ta’amula”, propaganda do Israel apartheid busca gente no mundo todo, lamentável.

É a mesma balela da Declaração Balfour, a carta malandra de Arthur Balfour ao Barão de Rothschild, como alguém pode doar uma terra que não lhe pertence, pior ainda, que foi roubada de outro povo. E essa leviandade ajuda a elevar o horroroso discurso de raça superior, levando os judeus a se equiparar completamente com os seus algozes nazistas, hoje fazem com os palestinos aquilo que foi feito a eles pelos hitleristas.

A arrogância sionista genocida é racista e gananciosa, Israel é um invasor ilegítimo que tem as costas quentes por estar tão próximo dos americanos (um dos maiores culpados por esta situação) e seus colaboracionistas, mas estão muito longe de Deus.

Minha crítica não é conversa de antiimperialista, ou qualquer outro alienado, mas sim uma visão lógica da história compartilhada com amigos judeus e de intelectuais como Noam Chomski , Ilan Pappé, Uri Avnery, Sefi Rachlevski, Yuram Kaniuk (que diz que não quer ser mais judeu), e tantos outros. Nunca suportei ver bandidos travestidos de mocinhos e heróis, se você se cala pode ficar um dia como um personagem de Brecht árabe, vai ser um palestino magro, com cara de louco espiando pela fresta do muro, como falou um amigo.

Jaime Baghá



Ocuparam minha pátria

Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista

Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista

Legislaram leis fascistas
Praticaram odiado apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista

Assassinaram minhas alegrias,
Sequestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries

Eles... mataram um terrorista!

Mahmoud Darwish


Talvez perca — se desejares — minha subsistência
Talvez venda minhas roupas e meu colchão
Talvez trabalhe na pedreira... como carregador... ou varredor
Talvez procure grãos no esterco
Talvez fique nu e faminto
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Talvez me despojes da última polegada da minha terra
Talvez aprisiones minha juventude
Talvez me roubes a herança de meus antepassados
Móveis... utensílios e jarras
Talvez queimes meus poemas e meus livros
Talvez atires meu corpo aos cães
Talvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeia
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Talvez apagues todas as luzes de minha noite
Talvez me prives da ternura de minha mãe
Talvez falsifiques minha história
Talvez ponhas máscaras para enganar meus amigos
Talvez levantes muralhas e muralhas ao meu redor
Talvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignos
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Ó inimigo do sol
O porto transborda de beleza... e de signos
Botes e alegrias
Clamores e manifestações
Os cantos patrióticos arrebentam as gargantas
E no horizonte... há velas
Que desafiam o vento... a tempestade e franqueiam os obstáculos
É o regresso de Ulisses
Do mar das privações
O regresso do sol... de meu povo exilado
E para seus olhos
Ó inimigo do sol
Juro que não me venderei
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Resistirei
Resistirei
Samih Al-Qassim, in Poesia Palestina de Combate