domingo, 13 de outubro de 2013


HOMEOPATIA

Contra a mídia sagaz,
Leia o senhor Baudrillard.
Raiva de livros feios,
Ignore os do Paulo Coelho.
Contra a fofoca infame,
Relaxe com Miles Davis e Coltrane.
Contra impulsos suicidas,
Leia coisas divertidas.
Até que a angustia estanque,
Muito Aldir Blanc.
Conta sem saldo? João Ubaldo.
Pavor de Trombose?
Zizzi Posi.
Fizeram você de bobo?
Não esquenta: Edu Lobo.
Se a impunidade te abusa,
Escute o saudoso Cazuza.
Se a corrupção não há quem estanque,
Compre uma máscara do Guy Fawkes.
Se o Supremo Tribunal te parece vergonhoso,
Conheça Idibal Piveta e leia Heleno Fragoso.
Falta-se inspiração
Que pode te levar a um ataque,
Ouça urgente o Chico Buarque.
Contra enxaqueca,
Leia Rubem Fonseca.
Contra o débâcle amoroso,
Ouça Caetano Veloso.
Abandonado como o rei Lear?
Leia Moacyr Scliar.
Se a classe média não chegou em ti,
Leia Marilena Chauí.
Se uma grande tristeza te invade,
Escute clássicos de Vivaldi.
Contra coriza e desdita,
Ouça Maria Rita.
Contra aflição e lumbago,
Leia o Saramago.
Ninguém te ama ninguém te quer?
Ouça o Charlie Parker.
Tudo é torto, tudo é tosco?
Ainda bem que tem o João Bosco.
Se você é um perdido neoliberal,
Consome e empenha até a alma,
Leia Zygmunt Bauman.
Contra o reles,
Lygia Fagundes Telles.
Se quem tu querias não te quis,
Fique só e ouça Elis.
Se tudo esta triste e nada dá certo,
Se contente com Clarice Lispector.     
Contra tudo que amola,
Use Paulinho da Viola.
Contra o medo do Opus Dei,
Use Billie Holiday.
Contra qualquer tipo de crise,
Ouça o Mauro Senise.
E se persistir a dor,
Procure um médico – ou leia Millôr.
E se realmente estás muito só,
E não tem um amigo que te ame,
É simples, procure o Jaime.
Jaime Baghá.







O GRANDE IRMÃO


Nós nascemos olhando para o outro lado, vamos aprendendo a ser servil, ficamos babando pelo outro lado querendo ser o personagem que a Sony Television te ensina a sonhar.  Como num conto de George Horwel, cada um tem o grande irmão no canto da sala ensinando o que usar o que comprar como deve proceder como ser atual, quem é os vilões e quem é o herói.
Você abandona teus costumes, a tua realidade e conhece mais as estrelas e as listas vermelhas de uma bandeira americana do que uma da América Latina. Esta TV que nos globaliza de maneira imbecil já troca nossas datas festivas por outras que não pertence a nossa tradição, nossas professoras já esperam o dia do halloween, achando até ridículo que se fale no dia do Saci. As meninas sonham em ser barbies e celebridades e recebem nomes estrangeiros tão estúpido como a cultura do dono do cartório, e assim temos Deividis, Magaivers, Maicons,  Diulias, Catrines, Carolaines e outros nomes que demonstra uma pobreza cultural, esperando um jovem loiro, bonitão, musculoso e de olhos azuis, o colonizado sonha com o símbolo da beleza do colonizador. Assim aos poucos aprendemos a nos desprezar e se conformar em serem povos de segunda ou terceira categoria.
 Somos globalizados no nada, somos fragmentados e muitas vezes nem gostamos de nós mesmos, o grande Big Brother impõe sua cultura e nos torna artificiais, com manias que não são nossas e nos sintetizam em algo que não somos. Até o café do Brasil ficou reduzido a um Starbuks Cofee. Temos a melhor comida de um país tropical, mas a galera prefere mastigar um bagaço de “carne” do Big Mac, ou uma “pizza” Hut, adoramos aqueles sabores quimicamente manipulados e frequentar o lugar que mostra um bom aspecto por causa da publicidade.
O pior é pagar por uma TV a cabo, pagamos para que nos dominem e pagamos para que nos excluam, enfim pagamos por um mundo onde não nos encaixamos e para ser colonizado. Pagamos para tentar saber que não somos loiros e inteligentes, criativos, audazes, nem suficientemente maus como os caras da Fox News. Quando nossos sonhos são colonizados, deixamos de sonhar sonhos possíveis, aceitamos passivamente em ser estranhos, sendo ridicularizados pelo colonizador, algumas vezes confundido com o terrorista.
Prefiro a América Latina onde em muitos países ando sem passaporte, e vendo o quanto é lindo seus costumes, seus sons, suas gentes, do que esta Latin America entalhada numa identidade importada tipo essa que aparece na tela da TV, espelho duvidoso em que nos espelhamos. Somos os latinos que necessita de nossa independência para olhar para nós mesmos sem complexos e despojados dos lastros colonizantes, que chama nosso país de quintal, dos sonhos loiros dos olhos azuis, sonhos tutelados que se tornam pesadelos, explorados em nossas economias, nossos recursos e até entregar nossa soberania. Somos explorados pelas corporações e por uma modernização conservadora, que, envergonhada e covarde de se assumir como tal, busca revestir seu ideário com uma tintura iluminista. Quero pensar como Glauber Rocha, “sou um bárbaro e as minhas raízes são as culturas populares do Terceiro Mundo”.
Fique livre, desligue o cabo, mas se formos assistir não vamos comprar a ideia, entendam que é apenas uma TV.
Sendo violento entre seus pares na sua sociedade, para a mídia colonizadora “o indivíduo moderno pode ser compreendido como um objeto dócil e inútil”, conclui no final de sua obra “Vigiar e Punir” Michel Foucault.
“O totalitarismo é filho da sociedade industrial, que combinou a crença na força das tecnociências com o desenvolvimento do racismo e da exclusão”, como mostrou Hannah Arendt.
O gosto não é uma propriedade inata dos indivíduos, mas é produzido, resultado de um feixe de condições materiais e simbólicas acumuladas no percurso de nossa trajetória educativa como falou Pierre Bourdieu, o sociólogo que diz que “gosto se discute”.
Da maneira como o poder opera, “o estado de espírito fixado e manipulado torna-se um poder efetivo: A organização da sociedade impede, de um modo automático ou planejado, pela indústria cultural e da consciência, pelos monopólios de opinião, o conhecimento e a experiência dos mais ameaçadores acontecimentos, das idéias e teorias essencialmente críticas, paralisando a capacidade de imaginar concretamente o mundo de  um modo diverso de como ele dominadoramente se apresenta aqueles por meio dos quais é constituído”. (Theodor Adorno – “Capitalismo Tardio ou Sociedade Industrial”, p.70).

Jaime Baghá.