sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


 DESORDEM E RETROCESSO
Eu não deveria estar esquentando com o que acontece no Brasil e nem deveria ter mais consciência, mas como sou um cara na contramão do establishment tenho que me manifestar. Os caras que pintam e bordam estão sempre aí reeleitos, a grande maioria de nossos ricos são os caras que manipulam o dinheiro público, é uma panela de amigos e concorrentes para ver quem rouba mais. Onde está a lei e a Receita Federal que não passa uma malha fina e vê de onde vieram os bens destes bandidos, isto só acontece com o cidadão comum, autoridade e seus amigos não tem bem apurado. Cadeias são para os pobres marcados pela injustiça social, superlotadas com homens empilhados em condições subumanas, muitos são vítimas de uma sociedade injusta. Tudo isso porque o estado dá mau exemplo com seus servidores e políticos desonestos, não os pune adequadamente,  é relapso, abusa nos impostos, rouba o dinheiro público e não dá uma qualidade de vida ao seu povo, continuando assim não vai ter prisão o suficiente e caminhamos para o caos.
Passamos daquilo que Michel Foucault chamou de sociedade disciplinar e Gilles Deleuze disse que era a sociedade do controle e o que temos é a ilusão da utopia de uma mídia comparsa, de uma televisão que distorce informações e marginaliza o povo com programas de péssimo gosto, com apresentações chulas em que as mulheres desejadas se transformaram em monstros siliconados e uma corja de imbecis que mostra que, quanto mais ridículo melhor.
Sangue nos programas apelativos que banalizam o crime, sexo para a família no chamado horário nobre. Pastores caça-níqueis (muito dinheiro) são o sucesso, prometendo curas, salvações e paraísos para os zumbis incautos. E tenham cuidado, estes sanguessugas do senhor estão com uma bancada cada vez maior de políticos, corremos o perigoso risco do monoteísmo e de um poder teocrático, aí sim vamos ser governado pelo grande irmão Malafaia ou o grande irmão Macedo e viver como num conto de George Orwell, mamãeeee!
No Brasil, os cidadãos urbanos vivem com medo e assustados com a violência, os crimes, as chacinas. O cara apanha por ser pobre, por ser negro, por ser gay, por ser estrangeiro, por estar de bobeira. Criaram o Estatuto da Criança e do Adolescente, excelente para países de boa educação, mas uma ótima cartilha para a contravenção neste país sem lei, onde o menor é manipulado para o crime, sem problema nenhum e tudo fica perdoado depois dos 18 anos. A bem pouco tempo o filho do seu fulano ficava famoso (e constrangido), por ter sido pego fumando um baseadinho malhado, hoje os viciados (e bota vício nisso, com muitos crimes e muitas mortes)  criaram cidades chamadas cracolândias, cujos habitantes aumentam dia a dia num submundo aterrador sem condições humanas, atirados ao lixo, a doença e a um inferno em plena metrópole. No mesmo inferno circula o cidadão que trabalha e estuda, paga um imposto abusivo, sem saúde, educação e direitos violados, enfrentando precariedade em tudo, assustado, faz de sua residência seu cárcere. 
Em outros países temos as ocupações que denunciam a perda da capacidade dos partidos de representarem os desejos políticos reais que se articulam na polis, aqui nossos jovens estão ficando idiotas, perderam o conceito político e de crítica (salvo alguns raros guerreiros das faculdades federais), usam a internet só para fofocas, frivolidades e futilidades. Há, e tem aquele babaca que coloca a máscara do Guy Fawkes, do filme “V” de Vingança e diz “muito sinistra esta máscara”, e pensa que é um revolucionário, quando a pressão bate chama a mamãe.
Diferente dos outros países, no Brasil as ocupações são feitas pelo crime organizado (civil e policial), estabelecendo regras, toque de recolher, cometendo chacinas.  O crime organizado brinca de cirandinha com o estado vil, comanda e dá ordem de abrir e fechar comércio, matando os cidadãos comuns e os policiais (alguns também contraventores), em quadrilhas que vai do pé de chinelo até as maiores autoridades.
Não se sabe mais quem é quem, a situação esta se transformando num cenário devastador. Como diz o jornalista Marcio Accioly, “se punir e atuar com seriedade e tudo for cumprido ao pé da letra, a maioria dos que nos governam terá inevitavelmente que ser encarcerada, Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e o próprio Congresso Nacional está cheio de contraventores, grupos e quadrilhas de alta periculosidade. De maneira que a banalização do mal, na abordagem da filósofa Hannah Arendt, é no Brasil a banalização do roubo e da patifaria”. É tanto canalha se dando bem, tanto ordinário virando “celebridade” (argh! palavrinha infecta), que fica difícil educar os filhos e tentar mostrar a eles alguma decência. Seria melhor colocar na bandeira brasileira a palavra “Desordem e Retrocesso”.

Jaime Baghá


Triboulet


LES MISANTHROPES BRÉSILIENS*

Temos no ar o mega sucesso da mídia: o julgamento do mensalão que me parece mais uma comédia de Moliére do que a lei vigorando neste país. Velhos birrentos como Triboulets, luminares (ou apagares) nas suas capas pretas (lembro o Bela Lugosi ou o Darth Vader), em desarmonia o tempo todo, com torcida organizada de ambos os lados esperando o desfecho da ópera bufa. Agora imaginem como seriam os julgamentos dos caixas dois que temos neste país de norte a sul, de prefeitura dos cafundós até os maiores escalões do governo, das compras de voto, de desvios de verbas, superfaturamentos, notas frias, empresas e funcionários fantasmas, superfaturamentos, crimes de jagunços, desmatamento ilegal, empreiteiras que nunca enfrentaram CPI (porque nunca saiu), seringueiros e sindicalistas assassinados, crimes contra os indígenas e toda a desgraça de crimes ligados a política neste país. Não me ufano com as demonstrações do Supremo, pois se houvesse justiça o Dr. Roger Abdelmassih, acusado de estupro, não teria se beneficiado das influências do Ministro Gilmar Mendes para livrá-lo da prisão, um dos inúmeros casos escandalosos em que o Supremo Tribunal Federal agiu de maneira infame e vergonhosa.  
Porque não tem lei para o escândalo do Projeto Sivam, contra as fraudes da previdência da empresa ESCA, associada à outra malandra americana chama Raytheon. 
Da criação do PROER para salvar o banco dos amigos de FHC.
E o caixa dois de Fernando Henrique que fez desaparecer R$ 5 milhões do dia prá noite.
As privatizações do Sistema Telebrás, da Vale do Rio Doce e as acusações de propina de Jose Serra.
A corrupção do DNER onde a propina tinha nome de precatórios.
O caso Marka/FonteCidam, onde o Bco. Central socorreu com mais de R$ 1.6 bilhão tornando felizes e ricos o Sr. Chico Lopes e Salvatore Cacciola.
O fiasco dos 500 anos e o superfaturamento do Stand da Feira de Hannover pelo filho de Fernando Henrique.
A festa das fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (projeto Sudam) em mais de R$ 2 bilhões.
Os desvios de R$ 1.4 bilhões em projetos da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE.
O dinheiro que sumiu do Fundo de Amparo ao Trabalhador-FAT em torno de R$ 4.5 milhões.
Os milhões de dólares que Maluf e família roubaram e tem no exterior e não mais ouvimos falar, nem sobre os 22 milhões que a justiça os condenou a devolver.
Porque o escroque Naji Nahas continua pintando e bordando no Brasil e continua impune, sua última foi à barbárie do Pinheirinho junto com seu comparsa Geraldo Alckmin e sua turma blitzkrieg nazistóide.
E o banqueiro Daniel Dantas com acusações de desvios de verbas públicas e crimes financeiros, inclusive se beneficiou com o esquema do mensalão, propinou até a Polícia Federal e não ouvimos mais falar mais do cara.
E o Opportunity Fund das Ilhas Cayman, empresa criada só para ser utilizada nos esquemas de roubos no Brasil.
A Privataria Tucana no livro do jornalista Amaury Ribeiro JR, que informa com farta documentação a corrupção nas privatizações do governo FHC.
Diante de tudo isso e muito, mas muito mais, o mensalão é um pirulito de criança e o nosso SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL jamais fez e fará alguma coisa, mostra apenas uma opereta barata para virar ufanismo na mídia. Fora da ópera bufa eles dormem nas suas tediosas sessões, enrolados em suas capas pretas como “vacas sagradas”, como dizia o jurista e senador Paulo Bisol. 
Então esperamos o quê? O Brasil que teve presidentes como: Collor o louco, Sarney o aproveitador corrupto, ou o “Honorável Bandido” do livro de Palmério Dória, Fernando Henrique o vaidoso duas caras, Lula que ficou amiguinho do Maluf e um socialismo vesgo tupiniquim que só é bom na cátedra, mas que na real, assim como todos os políticos na sua maioria, quando tiveram poder mudaram o pensamento. 
Então temos todos os ingredientes: direita e esquerda preparam um terreno fértil para um golpe militar, o povo imbecilizado pela mídia não vai precisar do Padre Patrick Peyton e a “marcha da família com deus pela liberdade”, com as senhoras da classe média. Vamos ter os buliçosos e embusteiros pastores caça-níqueis televisivos comandando uma multidão muito maior, gritando glória, louvando e batendo palmas freneticamente como robôs comandados, quem sabe a frente teremos um novo Nini “o louco” (Gal. Newton Cruz) empertigado em um cavalo branco sendo saudado pelo que restou dos velhos gorilas da ditadura, aí quando a coisa sair de controle e os novos gorilas censurar, prender, torturar e matar,  os novos nerds e raros estudantes esclarecidos vão sair novamente cantando de mãos dadas o hino de um novo Vandré cibernético, acreditando no país do futuro.

*Os misantropos brasileiros

Jaime Baghá 



Born Into This (Nascido nisso)

"Nascido assim
Nisso
Como o giz de faces sorridentes
Como a Sra. Morte às gargalhadas
Como as paisagens políticas dissolvidas
Como o peixe oleoso cuspido fora de sua oleosa vítima.

Nós nascemos assim
Nisso
Nos hospitais que são tão caros
Que são baratos para morrer (...)
Com advogados que cobram muito
É mais barato pleitear a culpa
Num país onde as cadeias estão cheias
E os hospícios estão fechados.
Num lugar onde as massas elevam idiotas
Em heróis ricos.

Nascido nisso
Andando e vivendo dentro disso
Morrendo por causa disso
Castrado, corrompido, deserdado
Por causa disso.
Os dedos se estenderam para um deus irresponsável
Os dedos alcançaram a garrafa, a pílula, o poder (...)

Nós nascemos nessa triste linha de morte
Lá estará aberto e impunível assassinato nas ruas
Será armas e multidões passageiras
A terra será inútil
A comida terá um retorno mínimo

O poder nuclear será tomado por muitos
As explosões continuarão balançando o mundo
Homens radioativos comerão a carne de homens radioativos..
Os corpos apodrecidos dos homens e dos animais vão feder no vento da escuridão
E lá estará um bonito silêncio jamais ouvido.

Nascido fora disso
“O sol escondido estará à espera do próximo capítulo.”

C.Bukowski

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sempre sonhando, desde os tempos em que não sabia o que era imperialismo, comunismo, neoliberal, globalização e o escambau. Maravilhosa é a infância e a inocência. Para Neide e a Neuza, as filhas das vizinhas, e para a minha vizinha e grande amiga inesquecível Dona Maria Vargas, de Cachoeirinha/RS. 

ERA UMA VEZ

Um menino
Que gostava de flâmulas
Gibis, bolas de gude
Peões, caixa de bugigangas
Tesouros, embaixo da cama

Um menino
Que dançava rock
Para as primas olhar
Coca-cola e lanchinho
Nos córregos para pescar

Um menino
Cantor, cowboy
Que não perdia matinê
Banho pelado nos açudes
Seriado de super-herois

Um menino
Desbravador de florestas
Do fundo do quintal
Tarzan, super-homem
Capas de roupas do varal

Um menino
De imaginários inimigos
Espadas, pistolas de raios
Medo do escuro
Destemido diante do perigo

Um menino
Moleque, fora da linha
Mambembe, ator
Cunhado do amigo
Namorado da filha da vizinha

Ainda sou um menino
Nesta egocêntrica luta
Pária do vazio convencional
Que me fez poeta, chacal
Nesta pífia sociedade adulta.