quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

EU

Não destilo a finitude humana

Não descrevo elegias

Ou salto como um éros lúbrico

Satisfazendo o rebanho.

Sou a rebeldia de um Goya

E suas pinturas negras

Um becketiano no absurdo.

Odeio padrões pré-estabelecidos

A afeição do meio

Existe muita dor e danação

Na curta existência

Para que eu fique alheio

Aos arquétipos criados

Pelo social e suas máscaras.

Pela minha solidão nas multidões e pelas minhas bebidas em festas e reuniões para que as pessoas possam ficar mais interessantes. Jaime

domingo, 16 de janeiro de 2011



O poeta e dramaturgo Ferreira Gullar é o ganhador do Prêmio Luis de Camões 2010, o mais importante prêmio literário da Comunidade de Países de Lingua Portuguesa (CPLP). Gullar tem uma extensa obra de poesias, crônicas, ficção, memórias, biografias, ensaios e teatros. Uma das minhas poesias preferidas é “Traduzir-se”, a qual foi extraido do livro “Vertigem do Dia”, e gravado por Raimundo Fagner na Espanha em 1981, num disco do mesmo título que foi um marco na carreira do cantor, anteriormente, Traduzir-se foi registrado no disco “Romance Popular” de Nara Leão



terça-feira, 11 de janeiro de 2011


1968

Em 1968, o mundo pegou fogo em todos os sentidos, não só no figurado. Esse ano mítico incendiou corações e mentes, explodiu em canções, filmes, passeatas, revoluções e guerras, nos campos de batalha e nas ruas, nos palcos e nas telas, na política, no imaginário e no comportamento das pessoas.Um frêmito percorreu o planeta, foi, como se disse naquela época, um “êxtase da História”.
Talvez o emblema maior dessa ebulição tenha sido o maio francês, como tudo o que ocorreu naquele mês em que os estudantes viraram Paris de cabeça para baixo, retirando as pedras do chão com as quais abalaram simbólicamente e literalmente o governo do lendário general De Gaulle, herói da guerra e monumento nacional. Anárquicos e utópicos os estudantes franceses contestaram todas as instituições, da escola ao princípio de autoridade, das relações familiares as sexuais, das roupas corte de cabelo. Além das barricadas, dos postes arrancados e dos enfrentamentos com a polícia, que causaram centenas de feridos, “les événements de mai” foram também uma guerra verbal. Nas paredes e muros, os jovens escreveram suas palavras de ordem e seu ideário: “É proibido proibir”. “A imaginação no poder”, “Seja realista, exija o impossível”. Porque, para eles, nada era impossível, das utopias as aventuras espaciais. O sonho de maio francês espalhou-se e uma onda de protestos varreu outros países do Ocidente.
Na Checoslováquia, a Primavera de Praga, um anseio de “socialismo com face humana”, acabou esmagada pelos soldados soviéticos. A resistência foi heróica e românica, com jovens enfrentando os tanques de peito aberto ou arrancando as placas das ruas para desorientar os invasores. Os protestos de rua perpassaram a Europa e chegaram até o Oriente.
No Japão, as manifestações estudantis e a repressão policial foram especialmentes violentas. Os ventos da contestação atingiram igualmente as Américas, de alto a baixo. Nos Estados Unidos, o movimento dos direitos civis de Martin Luther King, por um lado, o Black Power, por outro, e os hippies por toda a parte propondo sexo, drogas e rock’n’roll, agravaram a crise provocada pelo fracasso das tropas americanas no Vietnã.
No campo artístico, Janis Joplin, Jimni Hendrix, Bob Dylan e Joan Baez funcionavam como os acordes dissonantes, fazendo coro a subversão sonora que vinha de fora com os Beatles e os Rolling Stones. Essa misteriosa sincronia, que juntava jovens de nações e sistemas tão diferentes em torno de anseios e ideias comuns, se manifestou de maneira particular em países da América Latina, como o México, onde a repressão policial produziu um sangrento espetáculo de violência coletiva.
No Brasil, uma ditadura militar que se instalara em 1964 canalizou contra ele a rebeldia e a resistência dos estudantes. Em lugar da “sociedade de consumo”, do “sistema”, os jovens daqui tinham um inimigo mas concreto, que censurava, prendia e passou a torturar e matar. O ano que se caracterizou por memoráveis manifestações de rua, acabou com um sinistro ato, o AI-5, que cancelou todas as liberdades públicas. Nem por isso, os jovens daqui e de outras partes deixaram de lutar por seus sonhos e utopias, alguns dos quais a humanidade realizaria em seguida, como a odisseia no espaço que foi a conquista da Lua.

Do livro de Zuenir Ventura, “1968, o Ano que Não Terminou”.



Imagens do cartaz da esquerda p/direita: 01-AI-5; 02-Augusto Boal; 03-Caetano Veloso; 04-Chico Buarque; 05-Ferreira Gullar; 06-Gilberto Gil; 07-Bombas de Napalm Vietnã; 08-Janis Joplin; 09-Jimi Hendrix; 10-Joan Baez e Bob Dylan; 11-Vladimir Herzog; 12-Jose Celso Martinez; 13-Estudantes em protestos nas ruas de Paris; 14-Mather Luther King; 15-A foto considerada marco que mudou e virou a opinião pública americana sobre a Guerra do Vietnã; 16-Uma Odisséia no Espaço (filme); 17-Movimento Hippie, a revolução dos costumes sobre as lentes do Hair; 18-The Beatles; 19-Revolução estudantil, maio 1968 ruas de Paris; 20-Manifestação popular R.Janeiro contra ditadura; 21-Homem na Lua; 22-Passeata conta a ditadura no R.Janeiro em junho de 1968- Da dir. para esq. Carlos Scliar, Clarice Lispector, Oscar Niemayer, Glauce Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento; 23-Plinio Marcos; 24-Primavera de Praga, 25-A passeata dos 100 mil em 1968, manifestação popular de protesto conta a ditadura no Brasil.

A ÚLTIMA UTOPIA

Podemos pregar paz e amor, protestar contra as guerras, contra o racismo, clamar pelos direitos civis, podemos exigir direitos iguais às mulheres, respeito aos homossexuais, podemos incendiar as ruas em busca de nossos direitos e gritar contra o poder e suas situações indesejadas. De 1968 até hoje se passaram 43 anos e este senso crítico que incendiou uma geração bem que poderia ter um número maior de adeptos nos dias de hoje, necessitamos de opiniões mais reinvidicativas e que não fiquem alheio a tantas situações.

O planeta sofre uma série de problemas causadas pelo homem: poluição, queimadas, pescas predatórias, guerras e sua ganância de lucro a qualquer custo, o poder não necessita mais de repressão, políticos podem ser corruptos, roubar, aumentar seus salários ao bel-prazer, contando ainda com a complacência e a parceria da justiça. Houve uma influência e uma manipulação muito forte pela mídia e o consumo, as músicas foram capitalizadas, as artes muitas vezes é uma ópera bufa, todo tipo de asneira agora vira sucesso e o ridículo virou “celebridade” (palavrinha infecta). Perdemos muito do senso crítico.

Hoje temos o mundo diante dos nossos olhos através da internet, um instrumento poderoso que é usado quase que exclusivamente para mostrar basbaquices e “vantagens” com a intenção de aparecer a qualquer custo, e tristemente se tem lucro com isso, pois, a massa de emergentes formada pela plebe do mau gosto, despolitizada e desinformada, paga por isso. Sendo assim, o que era para ser uma grande tecnologia, acaba sendo transformada num moto-contínuo da imbecilização. Salva-se uma minoria que acreditou ser ouvida, hoje o jovem que tem senso político, ecológico e humanista é um chato, resume-se em pequenos grupos oriundos de famílias educadas e com tradição pela cultura.

Somos a utopia em busca da perfeição e enquanto existir um ser humano ele vai lutar, não adianta esperar o que dizia a música do “Hair”, “When the moon is in theseventh house, and júpiter aligns with mars, then peace will guide the planet, and love will steer the stars”, cuja tradução é “Quando a lua estiver na sétima casa, e júpiter se alinhar com marte, então a paz guiará os planetas e o amor dirigirá as estrelas”, que segundo os cálculos só acontecerá no ano 2600, já ouvi esta história e foi muito bonita, mas o que influenciou mesmo, não foi a lua ou o alinhamento dos planetas, e sim uma nova mudanças de atitudes e o que percebemos atualmente é que a mensagem da geração de 1968 está sendo esquecida.

Jaime

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Jaime e Maneca nos ventos do Santa Marta
Farol de Santa Marta/SC - 1987.


VENTOS

Meninos que corriam
Contra os ventos
Riam
Voavam
Desafiando o tempo.

Deslizavam em meu rosto
Os ventos
Sul
Chuva fina
Na vidraça da água furtada
Minuanos.

Hoje El Niños
La Niña
Cruzam meus caminhos
Tatuando meu rosto
Pelo tempo
Pelos ventos.

Nos alcantis de Torres
Olhando o mar
Recordo o menino
De alegre volitar
Os ventos continuam
Eu
Lento caminhar.

E as asas?
Ora, para que as asas
Se conheço os alísios
De tanto olhar.

Eu era um dos meninos que corriam contra os ventos minuanos, sem importar-se com o frio
Ou com o futuro. Hoje nos rochedos dos mares do sul, sinto os ventos, com saudades da in—
fância e feliz por atravessar as mudanças e traduzir em poesia os caminhos percorridos.
Creio que estes belos instantes são o verdadeiro significado da vida.

Jaime