quinta-feira, 30 de setembro de 2010


O ANJO

Raros momentos felizes
Poeta, vagabundo
Tropeços, deslizes
Educado aos gritos
Surrado
Perdido no mundo
Um maluco maldito
Ainda assim, gentil
Olhava por baixo
Calado, senil
Vivia o noturno
Caminhante da noite
Alhures, soturno
Afogando mágoas em drinks
Drogas, orgias
Um discípulo beatnik
Aproveitando os restos
Personagem de Bukowski
Sem pudor, incesto
Cigarro entre dedos
Trêmulos
Tragando até o filtro
Nervosos, aflitos
Dissimulando a dor
Entre devolutas
Procurando amor
Abraçado as putas
Pederastas
Bêbados
Errante das praças
Bares e becos
Contestando o mundo
A miséria humana
O capital imundo
Viveu o amargo, doce
Tímido
Mágico e gauche
Morreu de não sei o quê
De aids
Chapado
Ou overdose de AZT.

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domingo, 19 de setembro de 2010


Jaime,Antonio,Joseph e Krause, P.Alegre 1972

O DESPERTAR

Eu tinha quinze anos e usava uma calça que o pé quase não podia entrar de tão justa, alisava os cabelos para ficar parecido com os cantores da época e ter uma franja que os meus cabelos crespos e encaracolados não ajeitavam. Namorava a filha da vizinha e íamos ao cinema assistir a matinê, ver os filmes de John Ford com o John Wayne dando tiros para todos os lados e correndo para salvar a mocinha em perigo, e nós acompanhávamos a trilha sonora batendo os pés no assoalho do velho Cine Danúbio Azul (da pequena cidade da grande P.Alegre), que deixava o lanterninha louco e muitas vezes o projetista interrompia o filme para a gurizada se recompor, então, dávamos uma sonora vaia de assobios. Isto só não acontecia nos filmes do Elvis Presley ou nos melosos filmes italianos do Gianni Morandi, que faziam eu e a namorada com as mãos dadas e apertadas encher os olhos de lágrimas. Ou com o riso solto com os velhos filmes da Atlântida, com Oscarito, Grande Otelo Cyl Farney, Odete Lara, Tônia Carrero, Norma Bengell. Antes do filme, um seriado do Durango Kid que era interrompido com uma cena de perigo para ver no próximo domingo. Para trocar gibis, gostava de ir ao Cine Rey na Volta do Guerino ou no Vitória da Borges.

Festa boa era reunião dançante na casa de alguém, e melhor ainda na casa daquela menina liberal e com pais modernos, embalada com som de Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, Beatles era a novidade e com eles, “ She Loves You” yeah, yeah, yeah, traduzido para iê,iê,iê, era o rock brasileiro e suas guitarras elétricas. Com o movimento Hippie, comecei a perder a inocência, meu gosto pela Bossa Nova (que tenho até hoje) sofreu um pequeno baque com o tropicalismo de Gil e Caetano, nunca mais fui o mesmo.

Grudávamos nas antigas televisões Invictus e Admiral para ver o Festival da Música Popular Brasileira, Elis Regina, arrastão, Chico Buarque, Nara Leão e a “Banda”, Os Mutantes, surgia o Clube da Esquina com Milton Nascimento e os irmãos Borges. Eu que já estava seriamente abalado com o Festival de Monterey, Jimi Hendrix Experience e Janis Joplin, pirei nas letras musicais inteligentes, de protesto e questionadoras. Não precisei mais alisar meus cabelos, agora compridos e cacheados junto com uma calça e uma jaqueta Lee (que quando eram lavadas tínhamos que ficar cuidando no varal, senão roubavam) comprada de contrabando no cais do porto de P.alegre do negão Café, usávamos com roupas militares que comprávamos na Boutique Lixo, um depósito na Voluntários da Pátria (depois na Independência) que vinham do Vietnã.

Eu estava realmente integrado com a nova geração, dançando na noite de Porto Alegre e sumindo nos subterrâneos da metrópole. Meu pai começou a ficar preocupado e os mais velhos a falar das danças esquisitas (separados) e do cheiro de maconha nas esquinas. Minha idéia de liberdade foi aguçada com o livro de Kerouac “On The Roads” e completava com o descobrimento de Godard e seu “Acossado”, “A Doce Vida” de Fellini, Stanley Kubrick, Glauber e o cinema novo, Anselmo Duarte ganhava a palma de ouro em Cannes com “O Pagador de Promessas” e em 1969 fomos ao delírio com Woodstock, Credence, The Who, Santana e outros lendários.

Como os comportados ainda eram a grande maioria, sentíamos que éramos uma espécie de privilegiados por entender o que estava acontecendo em nossa volta, o horror da ditadura, a guerra do Vietnã, Bob Dylan, Joan Baez, sabíamos o que Chico Buarque e seus amigos estavam dizendo, o que falava o Boal e o que queria dizer Plinio Marcos e a anarquia do Zé Celso Martinez. Alguns mais velhos eram “os engajados” e chamavam agricultores de camponeses, outros tinham um pé em Miles Davis, Charles Parker e na poesia Beat, eu era muito jovem ainda, tava curtindo o paraíso como dizia Timothy Leary. Quando coloquei um pôster do Che na parede (que tenho até hoje) e comecei a ler Camus, Sartre, Brecht e outras políticas e lutas, pensava mais no trabalho para ter o vil metal (não sou filho de pai rico) do que a subversão. Gostava das ruas de P.Alegre, do Raul Ellwanger, do Festival Sulbrasileiro da Canção (melhor festival Gaucho), “Há, meu Matchu Pitchu ninguém segura este meu delírio” do Hermes Aquino, Mr. Lee Júlio Fürst, depois Almôndegas, Nelson Coelho de Castro, Ney Lisboa, gente da melhor qualidade.

Botei o pé na estrada, praia era Santa Catarina, (onde vivo hoje) gostava de poesias, filosofia e tudo que é Cult (e hoje gosto mais ainda) com uma boa pitada de jazz. Não era mais o menino que gostava de ouvir “Itai Dona da Noite” ou ir no Mataborrão com meu pai. Fiquei muito longe de alguns jovens do meu bairro, mas amei intensamente viver com este pessoal diferenciado, numa época que me tornou diferente para todo o sempre , e sem querer ser saudosista, hoje sento na beira do mar do Rosa ou de Torres e avalio: não acho muito legal este pós-modernismo pit-bull sem muito romantismo, em que o cara já nasce transando e dando socos, talvez por amar demais uma época em que se acreditou tanto na arte como força política no mundo.

Jaime Baghá – Quando a saudade aperta, vou tomar um chimarrão no Brique da Redenção, olhar o velho e o novo e me sentir um pouco em casa.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Candidatos Celebridades"



Desde o início das propagandas eleitorais venho acompanhando a repercussão sobre os candidatos “celebridades”, é inúmera as notícias, piadas, e-mails espantados falando da decadência política brasileira.

Porém amigos, eu me pergunto: porque tanto espanto? Esses não são os verdadeiros candidatos para o povo brasileiro? Não são reconhecidos? Não aparecem em todas as emissoras de canais, em programas que se orgulham em ser expoente de crítica da sociedade e da política brasileira? Que se orgulham em mostrar a verdadeira face do povo brasileiro? Transformando esses candidatos, que agora provocam espanto nessa mesma imprensa e no resto dos cidadãos, em ídolos do povão?

Os candidatos são jogadores, cantores, humoristas, tudo “celebridade” produzida e criada pelos que apedrejam; que fizeram as pessoas amarem essa palavra: “CELEBRIDADE”. Todos saídos da mesma instantaneidade e fugacidade que a mídia e a tecnologia nos empurram goela abaixo todos os dias.

Visualize por esta ótica meu caro: Romário foi o “herói” da copa de 1994 e o Tiririca é palhaço e melhor do que aqueles que nos fizeram de palhaço. Prefiro ver dinheiro sendo colocado numa calcinha da mulher fruta, do que nas cuecas e nas meias dos pilantras eleito pelo povo. Estes são os verdadeiros candidatos e acho até que são melhores que Maluf, Sarney, Collor, Barbalho, Quércia, Maia, Jucá, Roriz, Rezende, Bornhausen, Crusyus e tantos outros macacos velhos especialistas em sumir com o dinheiro público.

Isto tudo é resultado da decadência de uma postura social e política de um país que não reconhece sua história e não valoriza sua memória. De uma classe média conservadora que um dia saiu em marcha, atrás do “padre de Hollywood” chamado Patrick Peyton, pela Família com Deus pela Liberdade, entregando o país nas mãos de militares; e que ainda hoje essa mesma classe, metidos a sabidos, taxa aqueles que lutaram contra a Ditadura como terroristas.

A porta que foi aberta por jovens, intelectuais, poetas, artistas e escritores brasileiros, enfim, por todas as pessoas que tentaram ao menos lutar contra àquela condição e a repensar uma forma democrática e justa para o país; transformou-se hoje num circo de horrores sem estofo e a serviço de uma triste ideologia. Hoje seus herdeiros cafonas e sem cultura lutam para manter as coisas sem fundamento, estes filhos espúrios promovem uma verdadeira lavagem cerebral no povo com novelas, programas pífeos e jornais televisivos medíocres, repassando uma propaganda enganosa, ajudando os canalhas de plantão do PIG (partido da Imprensa golpista) a deixar cada vez mais idiotas “espertos”, que agora estão ridicularizando os chamados candidatos “celebridades”.

Estes candidatos são vocês meus amigos, somos nós, são os ídolos da nossa cultura. Então porque desdenhar? É uma pena que o Luan Santana não se candidatou, aí todos iam à loucura.

Autoria: Jaime Bagha e
Jaime Zé Silva.